Opinião | Troca no comando da Prefeitura de Palmas expõe feridas políticas e deixa lições sobre lealdade e poder

Os bastidores políticos de Palmas entraram em ebulição nos últimos dias após a posse do vice-prefeito e agora prefeito interino, Pastor Carlos Veloso, em substituição a Eduardo Siqueira Campos, afastado do cargo após ser preso por suspeita de envolvimento em vazamentos de informações sigilosas de processos do STJ.
A primeira semana de Veloso no comando já foi marcada por mudanças estratégicas. Mesmo após reunir-se com o secretariado e sinalizar que não haveria alterações, no dia seguinte o novo prefeito exonerou o procurador do município e o secretário-chefe de gabinete, nomeando nomes ligados ao seu partido, o Agir. As nomeações geraram burburinho nos bastidores e críticas de aliados de Siqueira, que consideraram a movimentação como traição precoce.
No entanto, o próprio Carlos Veloso visitou Eduardo no quartel do Comando Geral da PM em Palmas e relatou que o agora prefeito-afastado, detido, teria apenas solicitado a publicação de um aumento nos recursos da merenda escolar, deixando Veloso "à vontade" para tomar as decisões à frente do Executivo.
Do ponto de vista legal, é simples: Carlos Veloso é o prefeito. Sua assinatura responde por todos os atos da prefeitura. Mas do ponto de vista político, o cenário é mais profundo e exige uma reflexão madura sobre como a política trata seus aliados após a vitória.
Historicamente, vice-prefeitos são figuras apagadas durante os mandatos. Participam ativamente das campanhas, ajudam a construir vitórias, mas depois muitas vezes são esquecidos. Aparentemente, com Carlos Veloso não foi diferente. Há rumores de que acordos por espaços na administração não foram cumpridos, e que isso gerou insatisfação, ainda que não explicitada publicamente.
O episódio escancara uma realidade política: o poder é circunstancial. Em casos de afastamento, renúncia ou cassação, o que era apenas simbolismo se torna comando real. E é nesse momento que acordos desfeitos, lealdades negligenciadas e distanciamentos forçados retornam à cena com peso e consequências.
Carlos Veloso agora tem a caneta, e com ela, a responsabilidade e o direito de tomar decisões. Resta saber como isso será recebido pelos aliados de ontem e pela população de hoje.
A lição está dada: na política, o vice pode ser invisível até o dia em que se torna inevitável.
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Lucas Lima é apresentador de TV há 10 anos, diretor do portal Lucas Lima na TV, radialista e possui ampla vivência nos bastidores da política tocantinense.