Prefeitura suspende corte de pé de pequi, mas árvore já havia sido envenenada

A decisão de cortar um pé de pequi, símbolo histórico e afetivo da comunidade de Santa Rosa do Tocantins, no sudeste do estado, gerou forte polêmica entre moradores e o padre da Paróquia local. O caso ganhou repercussão após a prefeitura revogar a autorização para o corte da árvore mas o pequizeiro já havia sido envenenado antes da anulação da medida.
Símbolo cultural e protegido por lei
O pé de pequi está localizado nas proximidades da Igreja Matriz de Santa Rosa e, segundo moradores, existe há mais de 50 anos, sendo considerado um marco histórico e afetivo para a comunidade.
O pequi é protegido por leis federais e estaduais, e desde janeiro de 2025 é reconhecido oficialmente como patrimônio cultural imaterial, gastronômico e ambiental do Tocantins, conforme lei aprovada pela Assembleia Legislativa.
A autorização para o corte foi emitida pela Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente em 26 de junho de 2025, com base em uma “avaliação técnica fotográfica” que apontava risco de queda e presença de abelhas no local, o que, segundo o documento, representaria risco à segurança de fiéis e crianças.
Indignação popular e revogação da autorização
A decisão provocou revolta entre os moradores, que se mobilizaram nas redes sociais e pressionaram o poder público a manter o pequizeiro.
“Chorei com a notícia. Quando minha filha de 37 anos nasceu, esse pé já existia aqui. É muito triste, vários idosos estão tristes”, contou Alcanja Pereira da Silva, de 82 anos, moradora da cidade.
Diante da repercussão, a prefeitura publicou uma nova portaria no dia 13 de outubro, revogando a autorização e suspendendo qualquer intervenção na árvore.
O documento cita as “manifestações da comunidade local, amplamente contrárias à retirada da árvore” e determina a abertura de um processo de apuração em até 30 dias, para verificar a legalidade do procedimento e garantir transparência e participação social.
Árvore foi envenenada antes da suspensão
Apesar da revogação, moradores denunciaram que o pé de pequi já havia sido envenenado antes da decisão da prefeitura. O padre Pablo Luiz Viana dos Reis, responsável pela paróquia, confirmou a informação e explicou que o corte da árvore estava previsto para possibilitar a construção de uma sala de catequese e uma cozinha comunitária.
O religioso também criticou os protestos, afirmando que muitos comentários vieram de pessoas que não participam da vida da igreja.
“Muitos desses comentários vêm de pessoas que não frequentam a comunidade ou nem mesmo pertencem à Igreja Católica. Os que caminham conosco sabem do propósito pastoral e do zelo que temos com tudo o que envolve a vida paroquial”, afirmou o padre.
A defesa do padre alegou que as ações foram realizadas dentro da legalidade, com autorização expressa da prefeitura, e que o objetivo era garantir a segurança dos frequentadores da paróquia.
Polícia e novas medidas
A Polícia Civil informou que, até o momento, não recebeu denúncia formal sobre o envenenamento, mas garantiu que investigará o caso assim que a ocorrência for registrada oficialmente.
Já a prefeitura determinou que qualquer novo pedido de corte de árvores deverá conter documentação técnica completa, além de passar por análise jurídica e ambiental detalhada. A Secretaria de Meio Ambiente também recomendou a realização de audiência pública, caso surjam novas solicitações semelhantes.
Pequizeiro resiste
Mesmo após o envenenamento, moradores relatam que o pequizeiro segue firme e com frutos.
“Colocou veneno, mas não abalou a árvore em nada. Tá linda, com muitos frutos e folhas novas”, escreveu uma moradora nas redes sociais.